sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Advento: piedosa e alegre expectativa

Deus vem visitar-nos
A palavra Advento significa chegada (em latim “adventus”). Era o termo que os romanos usavam para designar a visita de um deus ou imperador. Assim, no vocabulário cristão, quando falamos de Advento falamos da espera da vinda do Senhor.

As duas vindas

Deus já nos visitou uma vez, quando nasceu há 2000 anos e teve uma vida humana em tudo igual a nós excepto no pecado; e há-de vir uma segunda vez, de forma gloriosa, no fim dos tempos. Assim, o Advento, que antecede o Natal (1ª vinda do Senhor), é um convite a prepararmos a 2ª vinda do Senhor, no fim dos tempos. Na verdade, Ele visita-nos todos os dias, e há-de vir de forma gloriosa no final, por isso há que ter sempre o coração preparado para o receber. No Advento a Igreja (que somos nós) clama «Vem, Senhor Jesus!» e escuta a resposta: «Erguei-vos e levantai a cabeça porque está perto a vossa redenção».

O roxo

No Advento, os paramentos (vestes que o sacerdote usa na liturgia) são roxos. O roxo é uma cor que nos fala da dimensão penitencial do Advento e, ao mesmo tempo, da expectativa de quem espera o Senhor que vem. Não é um tempo de marca tão penitencial como a Quaresma, é, principalmente, tempo de esperança na vinda do Senhor que nos vem salvar. Porém, não esquece o arrependimento e purificação de que precisamos para receber bem o Senhor que vem: «Arrependei-vos porque está próximo o Reino dos Céus!», clama S. João Baptista na liturgia do Advento.

Preparando o Natal, o Advento é uma espera vigilante, alegre e piedosa do Deus que visita o seu Povo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Está tudo dito!...

Algures na fronteira entre o Colmeal e os Cepos... Bem vindos a Arganil!

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Direito a ser Padre?

Publicado em jornais, há uns tempos atrás, como resposta a um artigo em que um Padre defendia a ordenação das mulheres.

Embora pouco cobiçada, a vida de Padre é vista por muitas pessoas como um direito, como uma coisa para quem quer. Deste erro parte a avaliação igualmente errada que muitas pessoas fazem das restrições da Igreja no que toca ao acesso às ordens sacras. É desta perspectiva desacertada, que vê a Igreja como uma empresa ou associação e o sacramento da Ordem como um cargo de poder e não de serviço, que derivam questões como: “Ele queria ser Padre mas não o deixaram”; “Os Padres deviam casar porque muitos gostavam de ser Padres e não vão por não se poderem casar”; e ainda “As mulheres têm direito a ser ordenadas e a ter poder de decisão na Igreja”.
Ora, a questão é que ninguém tem direito a ser Padre! Eu não tenho direito a ser Padre: a Igreja é que tem direito a que eu seja Padre, a que haja alguém que, enviado por Deus, lhe administre os sacramentos e alimente com a Palavra de Deus. Porque ser Padre é uma questão de os cristãos terem acesso aos sacramentos, e não de poder. Eu não sou Padre por causa de mim, nem para minha consolação pessoal: embora feliz por ser Padre, sou-o por causa de uma necessidade que a Igreja tem, e não fazia sentido ser de outra maneira.
Porque ser Padre não é uma questão de “ter direito”, a Igreja deve “filtrar” os candidatos e não deixar ordenar aqueles que descobrir que não são idóneos.
Do mesmo modo, o celibato tem a vantagem de percebermos que ser Padre não é “uma profissão como as outras”, como diz o povo.
Colocar a questão da ordenação de mulheres numa perspectiva de “ter poder” na Igreja é, no mínimo, colocar mal a questão. Não precisamos de quem queira vir mandar na Igreja. Precisamos é de quem queira vir servir a Igreja, de quem esteja disposto a deitar-se tarde e levantar-se cedo para celebrar a Missa em tantas paróquias sem Eucaristia, para acompanhar a vida espiritual e pastoral nas nossas cada vez maiores unidades pastorais, para ter a catequese em ordem, para fazer as reuniões, para resolver os problemas chatos dos centros sociais, para fazer a actividade com os jovens, para resolver os conflitos pouco agradáveis com a Fábrica da Igreja, para visitar os doentes, para confessar uma igreja cheia... Tudo isso custa muito, e tem a ver apenas com amor à Igreja, e não com direito a ser coisa nenhuma. Quem se acha com tantos direitos perante o sacramento da Ordem será que quer ser ordenado/a por amor a Deus e à Igreja ou apenas por amor a si próprio? Deus nos livre de a Igreja ser invadida, na sua hierarquia, por pessoas sedentas de poder e de ascensão pessoal em vez de espírito de serviço! Se já as há por lá, não queiramos lá mais!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

"A nossa prioridade são as pessoas"

Pelo menos é o que dizem todos os caixotes do lixo em Oliveira do Hospital.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O novo acordo ortográfico e o reaccionário que há em cada um de nós

Não gosto do novo acordo ortográfico. Temos pena, mas não gosto, e, já que a nossa sociedade se gaba se ser tão pluralista, então tem que me aceitar assim…
Porém, sempre que falo no assunto, quase sempre os meus interlocutores me devolvem: “eu também não!”. Surpreendido (ou talvez não), vou encontrando cada vez mais pessoas em desacordo com o acordo. Vidas reais de pessoas que vivem o drama de serem obrigadas (por trabalharem em instituições públicas, por exemplo) a escrever de uma forma que lhes causa aversão, ou então outros que se podem dar ao luxo de, pura e simplesmente, dizer que continuam a escrever como sempre escreveram, venha quem vier e doa a quem doer!
Será que os meus interlocutores são todos reaccionários? Ou será que há um sentimento mais amplo de ruptura com as modernices e o “português antigo” promete continuar actual?
Talvez haja um um reaccionário em cada um de nós...
Novo acordo ortográfico? Solta o reaccionário que há em ti!

sábado, 26 de outubro de 2013

A Fé

(Apresentado na Ultreia de 25-10-2013 na Sé Nova)


“A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem.”
(Hebreus 11, 1)

 
A fé, tal como a esperança, é para este mundo, para esperar com perseverança aquilo que ainda não vemos, enquanto não chegamos a essa meta em que veremos Deus face a face. A fé, lança-nos, portanto, para o futuro. E, por isso, é a coragem de ultrapassar as aparências, de ver para a além do que é visível.

Rom 8, 22-27:
“Nós sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo. É em esperança que estamos salvos, pois ver o que se espera não é esperança: quem espera o que já vê? Mas esperar o que não vemos é esperá-lo com perseverança. Também o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.”

Acerca de Abraão, que acreditou na promessa de Deus e morreu ainda antes do seu cumprimento total, mas acreditando que Deus não falharia, diz o Catecismo da Igreja Católica:

146. Abraão realiza assim a definição da fé dada pela Epístola aos Hebreus: «A fé constitui a garantia dos bens que se esperam, e a prova de que existem as coisas que não se vêem» (Heb 11, 1). «Abraão acreditou em Deus, e isto foi-lhe atribuído como justiça» (Rm 4, 3). «Fortalecido» por esta fé (Rm 4, 20), Abraão tornou-se «o pai de todos os crentes» (Rm 4, 11. 18).

Isto coloca-nos várias interrogações…

 
Deus existe?

É possível chegar a Deus observando a natureza e o universo. Há uma “teologia natural”, ou “teologia filosófica”, com base na inteligibilidade do universo.

Para muitos cientistas, a forma como o caos se encaminha inexplicavelmente no sentido de gerar espontaneamente a ordem (o que aconteceu no processo da formação do universo, e não só…), a maneira como todo o cosmos parece “conspirar” a favor do aparecimento (e da manutenção!) da vida, tudo isso revela, para eles, atributos divinos, como consciência e intenção.

A grande questão da filosofia é “por que existe alguma coisa em vez do nada?” (Leibniz). Imaginemos o nada… qualquer coisa que existisse, por minúscula que fosse, teria já o “super-poder” de aniquilar o nada! Pois aí existiria já alguma coisa…

Ora, se existe alguma coisa (disso nós temos 100% a certeza, quanto mais não seja porque se “penso, logo existo” (Descartes)), então é porque algo ou Alguém teve que dizer um grande “sim” para que exista alguma coisa em vez de nada! (YouCat, preparação para o Crisma).

Se o mundo existe é porque algo o gerou; e algo que tem que ser exterior a ele, algo que transcenda o universo, pois aquilo que o provocou não pode fazer parte dele; aquilo que fez irromper o espaço e o tempo não pode fazer parte do espaço e do tempo! (YouCat)

Por isso, muitos (cientistas, filósofos) chegam à conclusão que existe um deus observando a inteligibilidade que marca o universo, a maneira sábia como a natureza está organizada, como se fosse um relógio. Este mundo é uma “máquina” tão perfeita que tem que haver uma inteligência por trás dela.

Só que esse deus relojoeiro, o deus dos filósofos, ainda não é o Deus de Israel nem de Jesus Cristo. Esse deus nem sequer é pessoal. É apenas uma inteligência cósmica universal, abstrata, não uma pessoa. Esse é o deus da maçonaria, não é o Deus da revelação (por isso a Igreja deixa bem claro que não se pode ser cristão e maçon ao mesmo tempo). E um deus assim até um ateu quase podia aceitar.

Ao deus dos filósofos e dos cientistas chega-se pela luz natural da razão; mas para chegar ao nosso Deus não basta a nossa inteligência, é preciso que Deus Se revele…
 

Deus é Pessoa (a Aliança)

Abraão, o nosso pai na fé: o primeiro homem a quem Deus falou, isto é, a quem Se revelou. Com ele estabeleceu uma aliança:

«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» (Gn 12, 1-3).

O conceito de aliança é fundamentalíssimo em toda a Sagrada Escritura, que é como quem diz, em toda a história de Deus com os homens. Uma aliança só pode ser firmada entre pessoas. O nosso Deus é pessoa e revela-Se aos homens comunicando-lhes os seus desígnios de amor e até estabelecendo aliança com eles.

A fé não é um conjunto de valores, nem de ideias, nem de normas morais, porque normas e valores morais também os têm as pessoas sem fé… Embora a fé tenha consequências morais (se não as tivesse seria uma hipocrisia), não se resume a elas e nem sequer consiste nelas: a fé é uma relação viva com Alguém que eu acredito e sei que está vivo. E a relação só acontece entre pessoas, como é o caso da aliança. Mesmo que as tábuas da Lei possam ser o documento marcante de uma aliança, o compromisso não é com essas normas morais, mas com um Deus que é pessoa.
 

Deus é Trindade!

Mas em Cristo Deus estabeleceu uma Nova Aliança. E com Cristo descobrimos que Deus não só é pessoa como até é três Pessoas! A Santíssima Trindade, o único caso em que três Pessoas não são três deuses mas um só Deus.

Também é caso único em toda a história Deus fazer-Se homem. Por isso, Jesus Cristo, tornando-Se verdadeiro homem sem deixar de ser, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus, é a maior revelação que Deus podia fazer de Si mesmo. Depois que o próprio Deus veio ter connosco para viver a nossa vida, em tudo igual a nós excepto no pecado, está dito tudo o que havia a dizer sobre Deus; está dita a mais bela Palavra de Deus à humanidade. Por isso, Jesus bem pode dizer: “ninguém vai ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 16).

A morte de um outro qualquer não teria o poder de nos salvar; mas, porque Ele é o Filho de Deus e é Deus com o Pai, o seu sacrifício voluntário, morrendo por nosso amor na cruz, tem o poder de nos perdoar os pecados e nos dar a vida eterna.
 

Deus é Amor!

A Santíssima Trindade é um mistério insondável para a nossa inteligência e linguagem, que são humanas e, portanto, limitadas. No entanto, descobrimos que faz todo o sentido Deus ser Trindade! Dizer que Deus é Trindade é, no fim de contas, dizer que Deus é Amor. Se Deus é Trindade, então não é solidão, mas Amor. A comunicação de Amor no seio da própria Trindade Santíssima diz-nos que Deus é Amor em Si Mesmo. Como o amor não se vive sozinho, o mistério da Santíssima Trindade revela-nos que, mesmo ainda antes de criar o homem, Deus já era Amor em Si mesmo.

Como é pobre ficarmo-nos apenas por dizer “Deus existe”! Não nos preocupa apenas saber se Deus existe (os ateus é que se ficam por aí, e para negar, claro). Não nos preocupa apenas saber se Deus existe: nós queremos saborear o Seu amor!


A aventura de crer

Isto lança-nos na aventura que é crer. Aventura porque crer tem o seu risco. Mas é também, por isso mesmo, é uma atitude de amor, já que estou a confiar mesmo sem ter todas as evidências a 100%: há uma parte gratuita (e, portanto, de doação amorosa) no meu acto de crer.

A fé é a resposta do homem à revelação que Deus faz de Si Mesmo. Diz o Catecismo da Igreja Católica:

142. Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele». A resposta adequada a este convite é a fé.

143. Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a esta resposta do homem a Deus revelador.

154. O acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Mesmo nas relações humanas, não é contrário à nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas […]

156. O motivo de crer não é o facto de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganar-nos». «Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da sua Revelação». Assim, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e estabilidade «são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos», «motivos de credibilidade», mostrando que o assentimento da fé não é, «de modo algum, um movimento cego do espírito».

160. Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser voluntária. Por conseguinte, ninguém deve ser constrangido a abraçara fé contra vontade. Efectivamente, o acto de fé é voluntário por sua própria natureza»

 

A minha fé é a fé da Igreja!

“Eu cá tenho a minha fé”!?... Eu cá tenho a fé da Igreja!

É verdade que a fé minha na medida em que é decisão pessoal; tenho que ser eu a assumi-la; a fé não nasce enquanto Jesus Cristo for Alguém de Quem eu ouvi falar, mas só nasce quando eu faço experiência de Jesus Cristo. A fé é decisão pessoal… mas, para que seja sólida, há que ser não apenas a “minha fé”: precisa de ser a fé da Igreja!

Quando tenho a “minha fé”, tenho uma fé subjectiva, criada por mim, á minha maneira, de acordo com as minhas opiniões (que podem estar muito certas ou muito erradas) e, acima de tudo, de acordo com as minhas conveniências. Uma fé que é apenas a “minha fé” o mais certo é ser apenas um produto da minha imaginação.

Pelo contrário, quando assumo como minha a fé da Igreja, estou a dar o meu assentimento a algo que é maior do que eu próprio! A algo que vem de muito antes de mim; e antes de mim não é só dos meus pais ou avós: é desde os Apóstolos! Que é o mesmo que dizer desde Cristo! E aí eu não erro, pois estou a sair do horizonte da minha simples opinião falível.


A sucessão apostólica

Muitos discípulos seguiam Jesus, mas de entre eles Jesus escolheu doze apóstolos. Os apóstolos eram discípulos, mas nem todos os discípulos eram apóstolos. Aqueles doze Jesus preparou-os de um modo especial para uma missão especial. A eles confiou o ministério do sacerdócio, do perdão dos pecados, de expulsar demónios, de serem os alicerces da sua Igreja.

E, como eles eram mortais e não iam durar para sempre, transmitiram esse dom, esse ministério que receberam directamente de Cristo, a outros que continuassem a missão ao longo dos tempos, pelo gesto da imposição das mãos, isto é, a ordenação (mesmo que inicialmente não fosse ainda chamada com esse nome). E esses, por sua vez, impuseram as mãos a outros, e esses a outros… até chegar aos nossos bispos actuais. Há, portanto, uma cadeia ininterrupta desde os doze apóstolos de Cristo até cada um dos nossos bispos actuais. Chamamos a isto “sucessão apostólica”. Os bispos são sucessores dos apóstolos e é esta cadeia de sucessão de ordenações válidas e sem interrupções, sem quebrar a cadeia que vem desde os apóstolos, [é isto] que garante a eficácia dos sacramentos e a fé autêntica.

Este ministério de ser pastor da Igreja e de garantir a verdadeira fé e a eficácia dos sacramentos foi dado por Cristo aos apóstolos (e, portanto, aos seus sucessores), a começar por Pedro, que Cristo estabeleceu como o primeiro entre eles:

«Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mt 16, 18-19).

A São Pedro, para além de ter sido confiado o mesmo ministério que aos outros apóstolos, Jesus ainda confiou mais a missão de confirmar os seus irmãos na fé: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» (Lc 22, 31-32).

De facto, conhecemos o nome de todos os Papas desde São Pedro até ao Papa Francisco, uma cadeia de sucessão ininterrupta que faz com que cada um desses homens ao longo dos tempos fosse Pedro, a garantir a unidade da igreja, a confirmar os irmãos a unidade de uma mesma fé.

Perante tudo isto, compreendemos agora ainda melhor como é ridículo alguém dizer “eu cá tenho a minha fé” e achar que ainda é mais católico do que os outros.

Não se pode ser católico (e, atrevo-me ousadamente a dizer que até, de algum modo, não se pode ser completamente cristão) sem estar em comunhão com a única Igreja que está fundada “sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus” (Ef 2, 20). Estar com o Bispo é estar com a Igreja e ter a fé autêntica; estar em comunhão com o Papa é estar em comunhão com a verdadeira fé.
FIM
* * *
TEXTOS EXTRA…

Ef 2 - Judeus e pagãos unidos em Cristo - 11Lembrai-vos, portanto, de que vós outrora - os gentios na carne, os chamados incircuncisos por aqueles que se chamavam circuncisos, com uma circuncisão praticada na carne - 12lembrai-vos de que nesse tempo estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. 13Mas em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, agora, estais perto, pelo sangue de Cristo. 18Porque, é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai. 19Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.

1ª Tim 1
3Quando parti para a Macedónia, recomendei-te que ficasses em Éfeso, para dissuadir alguns de ensinarem doutrinas estranhas 4e de se ocuparem de fábulas ou de genealogias intermináveis, que favorecem mais as discussões do que o desígnio de Deus que se realiza na fé. 5O objectivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6Por se terem afastado desta linha, alguns perderam-se em discursos vãos. 7Pretendendo serem mestres da lei, não sabem nem o que dizem, nem o que afirmam com tanta segurança.

A evolução do dogma cristão - Da Primeira Exortação de S. Vicente de Lerins, presbítero (Sec. V)
Não haverá progresso algum dos conhecimentos religiosos na Igreja de Cristo? Há, sem dúvida, e muito grande.
Com efeito, quem será tão malévolo para com a humanidade e tão inimigo de Deus que pretenda impedir este progresso?
Mas é preciso que seja um verdadeiro progresso da fé e não uma alteração da fé. Verifica-se um verdadeiro progresso quando uma coisa se desenvolve sem deixar de ser ela mesma; dá-se uma alteração quando deixa de ser o que é, e se transforma noutra.
É necessário portanto que, através das idades e dos 4 séculos, cresça e se desenvolva continuamente a inteligência, a ciência e a sabedoria de todos e cada um, de cada homem e de toda a Igreja Mas este desenvolvimento ria fé deve dar-se segundo a sua natureza, isto é, conservando a identidade do dogma, da doutrina e do seu significado.
O conhecimento religioso das almas imita no seu desenvolvimento a estrutura dos corpos Estes crescem e desenvolvem-se através dos anos, mas conservam sempre a sua natureza. Há uma grande diferença entre a flor da infância e a maturidade da velhice; mas os que atingem a velhice são os mesmos que outrora eram adolescentes. Mudam a condição física e a aparência do homem; no entanto continua igual a sua natureza, permanece idêntica a sua pessoa.
São pequenos os membros dos recém-nascidos e grandes os dos jovens; e contudo, os membros são os mesmos.
Os adultos têm o mesmo número de órgãos que as crianças e se é verdade que alguns órgãos vão aparecendo com o processo de desenvolvimento, eles encontravam-se já incluídos no embrião, de tal modo que nada de novo se revela nos mais velhos que não estivesse já latente nas crianças.
Sobre isto não há dúvida alguma. É esta a norma legítima de todo o progresso, são estas as eis maravilhosas de todo o crescimento: com o decorrer dos anos, vão-se manifestando nos adultos aquelas perfeições que a sabedoria do Criador tinha formado previamente no corpo do recém-nascido.
Se um ser humano mudasse de tal modo que viesse a apresentar uma estrutura não correspondente a sua espécie. quer aumentando quer subtraindo algum dos seus membros, necessariamente pereceria todo o organismo ou converter-se-ia num ser monstruoso ou pelo menos ter-se-ia gravemente deformado. Também o dogma da religião cristã deve seguir estas leis de desenvolvimento: fortalece-se com o decorrer dos anos, desenvolve-se através das idades, cresce com o andar dos tempos.
Os nossos antepassados semearam outrora neste campo da Igreja a semente da fé. Seria gravemente iníquo e incongruente que nós, seus descendentes, substituíssemos a autêntica verdade daquele trigo pelo erro da cizânia.
A retidão e a coerência exigem que não haja contradição entre a raiz e os seus frutos: se eles semearam o trigo da verdadeira doutrina, o fruto que se há-de colher é o trigo do verdadeiro dogma; e se há sempre alguma porção daquelas primitivas sementes que se pode ainda desenvolver com o andar dos tempos, isso deve continuar a ser objeto de uma feliz e frutuosa cultura.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Dia Santo (Corpo de Deus)

Ontem, pela primeira vez, não celebrámos o Corpo de Deus no dia próprio. De manhã, ao subir a serra, dos Cavaleiros para Fajão, a estrada, do lado contrário, estava coberta de flores. As pétalas das giestas, amarelas e abundantes, cairam de maduras com a chuva e o vento da noite. Talvez ainda não tivessem passado muitos carros em sentido contrário e, coincidência ou não, a via parecia ter sido enfeitada como se fosse para a procissão do Santíssimo Sacramento. Logo me lembrei: hoje é dia de Corpo de Deus!
Ao chegar à igreja, celebrei a Missa votiva da Santíssima Eucaristia, seguindo a opção de usar as orações da Missa do dia de Corpo de Deus, e até as leituras. Sentia que tinha que o fazer. E, para mim e para as pessoas que lá estavam, foi Dia de Corpo de Deus, tal como o era em toda a Igreja!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Vale de Ferro

Todos os anos lá íamos, no Domingo de Pentecostes, à tarde. Os naturais de lá foram embora há anos e o lugar ficou deserto e com as casas em ruínas, mas a capela lá está, sobre um morro, coroando a povoação. O lugar foi recentemente repovoado por um casal belga, mas conserva as suas característica de povoação quase deserta. Num extremo da freguesia do Ervedal, já próximo do rio Mondego, à volta só há giestas e não há estrada alcatroada para lá. É um lugar de silêncio e de paz. A capela, no cimo do pequeno outeiro, tem a magestade de um santuário, embora seja pequena e tenha aspecto de velha. O largo da capela, sustentado por uma parede de granito, é bastante rústico, pois a ausência de moradores naturais do lugar proporcionou que não se fizessem lá melhoramentos. Dali está ausente o cimento e o alcatrão: apenas há chão de terra, muro de pedra, rebouco antigo e espinhosas, árvores que, naquela zona, se vêem, com alguma frequência, nos adros. É um despojamento encantador, que nos conserva o passado tal como ele era.
Embora já não haja moradores naturais de lá, naquela tarde, pessoas de toda a Cordinha comparecem em peso! Aquele continua a ser o dia em que, tradicionalmente, ali se celebra a festa de Nossa Senhora das Necessidades, padroeira do lugar. A festa era bela, porque muito simples. Celebrávamos a Missa, e pouco mais. Uns vinham para a Missa, outros nem por isso, mas vinham muitos. Alguns traziam merendas e havia quem chegasse a trazer um acordeão.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sermão do Encontro

Para o Encontro entre a Mãe Santíssima e o seu Divino Filho na procissão do Senhor dos Passus, em Domingo de Ramos, na Pampilhosa da Serra (24-03-2013).
*
Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito, para que todo o que nEle crê não morra mas tenha a vida eterna (João 3, 16).
Esta é a maior das notícias. Esta é a Boa Nova digna desse nome.
O amor de Deus é salvação.
E foi Ele que nos amou primeiro! É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados (1º João 4, 10). E, por isso, também o mesmo Filho de Deus nos diz: Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça (João 15, 16-17).

Desde sempre, o Verbo de Deus existe. Foi pelo Seu Verbo que Deus disse “Faça-se”, e tudo foi feito. Desde sempre que Ele é Deus com o Pai na unidade do Espírito. E as delícias do Verbo consistem em estar com os filhos dos homens (Pr 8, 31). Tanto que Se fez um deles. Ele veio e habitou entre nós.
Ele tinha que vir, porque nós precisávamos se ser reconciliados com Deus… e uns com os outros. Ele é a nossa paz (Ef 2, 14), por isso Ele tinha que vir. Ele tinha que vir, porque nós não nos podemos salvar a nós mesmos. Quem teria a arrogância de se julgar capaz de se salvar a si mesmo? Ele tinha que vir porque todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho (Is 53, 6).
Esperávamos ansiosamente que Ele viesse. E Ele veio! O Filho de Deus veio ao mundo…

(entra o andor com a imagem do Senhor dos Passus)

Ele veio… Veio mas ninguém o conheceu! Aliás, Ele estava irreconhecível! O Seu rosto estava desfigurado! (Cf. Is 52, 14) Esmagado pelo sofrimento, Cristo carrega a Cruz.
Ficamos, talvez, confusos… Esperávamos que Ele viesse, não esperávamos que fosse… assim…
Tal como ninguém O reconheceu na pobreza do presépio em que nasceu, também agora dificilmente o reconheceríamos na crueldade da Cruz que leva às costas, ferido e humilhado. Tão desfigurado estava o seu rosto que tinha perdido toda a aparência de um ser humano (Is 52, 14)
Esperávamos a vinda de Deus glorioso, mas… Deus ferido e humilhado?! Que escândalo!!! Que loucura!...

Mas aquilo que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. Porque o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens. Por isso, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como não judeus, Cristo é poder e sabedoria de Deus. (Cf. 1ª Cor 1).

Nunca ninguém tinha visto nada assim. Na verdade, diante dele, os reis ficarão calados, porque hão-de ver o que nunca lhes tinham contado e observar o que nunca tinham ouvido. (Is 52, 15)

Nós não O conhecemos. Nós víamos nele um homem castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados. (Is 53, 4-5)
Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós. Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca. Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca. (Is 53, 6-7)

Ó Cristo, Vós viestes, e nós não Vos conhecemos!
Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 10-12).

Sim, tornámos filhos no Filho, tornámos filhos por causa do Teu Sangue, ó Cristo! Sangue de Cristo, chuva de perdão! […] Sangue, seiva do Céu sempre a jorrar. Sangue que lava a terra lés a lés como jamais a lavaria o mar. […] seja em cada agonia a grande esperança e mate a sede a quem de sede morre (M. Faria).

(pausa)

Porque se Ele oferecer a sua vida como sacrifício de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias, e a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na sua sabedoria (Is 53, 10-11).
 
Mas, por agora enfrentais o duro combate da Vossa Paixão. Os discípulos dispersaram-se e fugiram. Abandonado por todos, agora estais sozinho…
Estará Cristo totalmente só? Sim, porque é Ele que tem que enfrentar o combate; mas na Via Sacra de Jesus também aparece Maria, sua Mãe (J. Ratzinger). E a Sua Mãe Santíssima veio ao Seu encontro…

(entra o andor com a imagem de Nossa Senhora)

Senhora, quando todos fugiram, Vós estais aqui, diante do Vosso Filho, lacrimosa mas firme, confiante. Estais aqui porque as mães são assim. Mas, acima de tudo, estais aqui porque sois a Mulher da Fé, e, por isso, sois Mulher de coragem!

Há trinta e tal anos atrás, ali bem perto, no templo, ouvistes a profecia da boca do velho Simeão: Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma (Lc 2, 34-35).

E agora tudo isto se torna realidade; mas Vós conservastes sempre, no vosso Imaculado Coração, o que o Anjo Vos disse quando tudo começou: «Não temas, Maria» (Lc 1, 30). Por isso, agora os discípulos fugiram, mas vós estais aí, com a coragem de mãe, com a fidelidade de mãe, com a bondade de mãe, e com a Vossa Fé, que resiste na escuridão (Cf. J. Ratzinger): «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1, 45).

Nós fugiríamos, porque a nossa Fé, muitas vezes, é morna, tíbia, insípida, e nem sempre a sabemos levar a sério, principalmente quando chega a hora da verdade!...

Vós, Senhora, talvez mesmo sem compreender totalmente o que está a acontecer, sabeis que é o plano de Deus a realizar-se de forma incompreensível e surpreendente. Vós tendes Fé apesar de tudo, porque sabeis que o pensamento de Deus está acima do nosso e que o Seu plano é misterioso e se realiza por caminhos que nós, às vezes, não compreendemos. E, por isso, acreditais e confiais mesmo contra toda a esperança. Podeis até nem saber como são os planos de Deus, mas confiais.

Por estranho que tudo isto pareça e por doloroso que isto seja, Vós sabeis que o plano salvador de Deus passa por aqui, mesmo que não o compreendamos por agora. Por estranho que isto pareça e por doloroso que isto seja, Vós sabeis que, no fundo, este sofrimento e morte hão-de trazer consigo a Vida. Sofreis com paciência o sofrimento do Vosso Filho porque sabeis que ele há-de dar fruto de Vida e não de morte, mesmo que agora ainda não consigamos ver como.

Senhora, Vós sofrestes mas não desesperastes, porque o vosso sofrimento estava unido ao do Vosso Filho; era o mesmo sofrimento, um sofrimento que é doloroso mas não é trágico, porque acaba em ressurreição. Senhora, ensinai-nos a unir também os nossos sofrimentos ao único sacrifício de Cristo. Porque assim o nosso sofrimento já não é desespero, porque termina em caminhos de Vida verdadeira. Senhora, ensinai-me unir os meus sofrimentos ao único sacrifício de Cristo, porque assim eu completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1, 24), e assim já não é um sofrimento estéril.
 
É a Paixão de Cristo que nos conforta!
Toda nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele fomos salvos e livres (Cf. Gl 6, 14). Ele tinha que vir, porque nós precisávamos se ser reconciliados com Deus e uns com os outros.

Juntamente com Nossa Senhora, rezemos juntos:

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro das Vossas Chagas, escondei-me.
Não permitais que de Vós me separe.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós,
para que Vos louve com os Vossos Santos,
por todos os séculos. Ámen.