quinta-feira, 11 de março de 2010

O matrimónio é mais antropológico do que jurídico

O matrimónio responde à realidade antropológica do ser humano, que existe sempre no masculino ou no feminino. São duas formas distintas e complementares de ser: de pensar, de sentir, de se manifestar, de se comportar, de agir...
O matrimónio responde a essa condição dupla de ser pessoa humana, à necessidade antropológica que homem e mulher sentem de compartilhar a sua existência com quem, a partir da diversidade do sexo, demonstra ser o amigo verdadeiro (Gn 2, 23-24). Na verdade, trata-se de uma realidade antropológica, muito antes de ser sócio-jurídica.

Ora, não estarão as recentes leis portuguesas (e estrangeiras, mais ou menos recentes) sobre os casamentos homossexuais a reduzir o matrimónio a uma realidade jurídica, esquecendo completamente a sua essência antropológica? Creio que sim! De facto, é só na medida em que se considera o matrimónio como uma realidade exclusivamente jurídica que é possível alterar a sua configuração, porque a legislação é feita pelo homem e pode ser por ele alterada, enquanto a realidade antropológica é anterior a qualquer decisão, mesmo à decisão político-legislativa.

quarta-feira, 3 de março de 2010

As catástrofes naturais e o verdadeiro sentido da vida

Nos últimos dias as más notícias, as grandes más notícias, como terramotos, enxurradas, ventos, mortos e feridos (umas vezes às dezenas e outras aos milhares) têm-se sucedido de uma maneira pouco comum… Ainda nem digerimos o choque de uma notícia e já estamos a receber outra.

Que se passa com o Céu para mandar tantas desgraças sobre a terra? São acontecimentos dolorosos que sucedem: não é Deus que os manda, não são castigos, não são vinganças como se Deus estivesse ressentido por ter sido esquecido pelo mundo. Contudo, estas desgraças podem tornar-se, de alguma forma, um momento de graça, se forem reflectidas por nós: estes acontecimentos são uma chamada de atenção para o verdadeiro sentido da vida.

Por vezes, podemos viver a vida perdendo-nos apenas no seu aspecto material, sem pensar em mais nada senão em enriquecer, procurar o luxo, as farras… As calamidades mostram-nos até que ponto esses bens são efémeros: não devemos por neles todo o sentido da nossa vida, porque podemos perdê-los de um momento para o outro. Muitas vezes, enganados por falsas promessas de felicidade, também nós nos afastamos de Deus, convencidos de que podemos encontrar a alegria e a paz sem Ele. Mas depois acabamos por nos encontrar sós e desiludidos, agarrados a seguranças passageiras numa condição de fracasso e de morte. Temos, portanto que nos agarrar ao Eterno. Temos que gozar este mundo mas sabendo que ele está sempre a mudar e que uma felicidade completamente depositada apenas no material pode ir por água abaixo na próxima enxurrada ou desmoronar-se no próximo terramoto. Tudo isto nos faz pensar (embora quase não o consigamos engolir!) que, mesmo quando o material significa o esforço de toda uma vida, essa vida precisa de continuar apesar de aquele bem material já não existir. Precisa de continuar e de continuar com um sentido.

«E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» (Lucas 13, 4-5)