domingo, 25 de abril de 2010

Onde é que estava Deus?

Deus estava , onde sempre esteve! O Crucificado continua a sofrer hoje. No sismo, na guerra, na violência, principalmente contra os inocentes, na fome, na miséria, em todo o lado onde nos parece que Ele está ausente é precisamente aí que Ele está! Ele sempre esteve a sofrer com os que sofrem. A pergunta certa não é «onde é que está Deus?», mas sim «onde é que estou eu?»; a pergunta certa não é «o que é que eu penso de Deus?», mas «o que é que Deus pensa de mim?»: isso é que é importante! Ele, o Crucificado, sempre esteve lá. Ele é o único que encarna a vida humana na sua totalidade, o único Deus que assume todo o sofrimento. Onde alguém sofre, Ele sofre. Por isso é que a nossa fé não é vaga, nem alienada, nem “etéreo-gasosa”; por isso é que a nossa fé não se perde nas nuvens, mas assume tudo aquilo que a vida é. Por isso é que a vida eterna não é uma coisa de mortos, mas é aquilo que começamos a viver aqui, agora, já! Na verdade, a vida eterna é o convívio com Deus.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Contradições de hoje

Nestes tempos hipócritas um Padre não pode chegar à soleira da porta da igreja e abrir a boca para bocejar porque isso é um atentado contra a liberdade religiosa e contra o Estado laico.

sábado, 10 de abril de 2010

Ver para crer

João 20,19-31
João escreve para cristãos do fim do século I, que já não tinham conhecido Jesus nem talvez nenhum dos doze apóstolos e têm dificuldade em acreditar. Queriam, como nós queremos tantas vezes, ver com os próprios olhos, tocar, ter provas de que Jesus ressuscitou. Tomé é o símbolo dessas dificuldades.
«Felizes os que viram», dizemos nós. Mas Jesus responde-nos: «Felizes os que acreditam sem terem visto». Não é por termos mais mérito, ao realizarmos uma tarefa mais difícil, porque não é de méritos que se trata. Somos felizes porque acreditamos com mais amor gratuito. Gratuito porque acreditamos sem provas.
Apesar de Tomé ter exigido tocar, não é dito no texto que ele, depois, tenha de facto tocado. Não precisou de tocar: viu e ouviu e fez a mais bela e completa profissão de fé em todo o evangelho segundo São João. Na verdade, o título «meu Senhor e meu Deus», no contexto bíblico, só é aplicável ao próprio Yahweh, com Quem São Tomé identifica Jesus. «A fé vem pelo ouvido»: «Eu sou o Bom Pastor, as minhas ovelhas escutam a minha voz». As ovelhas conhecem a voz do Pastor e vão a correr para Ele, sem necessidade de aparições.
No Dia do Senhor os discípulos estão em casa e o Senhor aparece a dar-lhes a paz. «Casa» significa a Igreja, a comunidade. E é no Domingo e oito dias depois (e todos os oito dias!) que o Ressuscitado os visita. Eles também são os mesmos, mais um, menos um… É aqui, em casa, que encontramos o Ressuscitado. No Dia do Senhor e todos juntos! É aqui que ouvimos a voz (a Palavra!) do Ressuscitado, que nos leva a professar a fé, como São Tomé. Quem anda à espera de provas para acreditar provas é coisa que nunca encontrará. Jesus recusa-se a fazer milagres para dar provas. Não O podemos ver, mas basta-nos ouvir a Sua voz. Não há provas, nem dEle nem contra Ele: o que há é a disponibilidade do nosso coração para O ouvir e acolher. Se O quisermos acolher tê-lo-emos connosco; senão, também não teremos provas.
Quem fica sozinho no Dia do Senhor podendo vir à casa da comunidade, quem se recusa a reunir dizendo que reza sozinho, que se confessa a Deus e não precisa da Missa porque faz as suas orações… talvez tenha (ou não) uma experiência de Deus, mas não tem experiência do Ressuscitado, porque é quando nos reunimos que Ele nos visita.
O Evangelho segundo São João conclui (concluía na redacção inicial) dizendo que foi escrito «para acreditardes» e «para que, acreditando, tenhais a vida». Até aos apóstolos custou a acreditar, de tão sobrenatural que é o acontecimento da ressurreição. Do mesmo modo que nem muitos dos que viram os milagres de Jesus acreditaram. «Quando vier o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra?» Quem sabe até que ponto Jesus Cristo não terá sido o único verdadeiro crente! A fé é um passo arriscado, mas temos que ser nós (cada um de nós) a dá-lo! Exige de nós uma confiança profunda, como a que precisa a criança que avança desamparada para os braços estendidos da mãe quando aprende a andar. Se estivermos à espera de umas muletas em vez de arriscarmos avançar, mesmo com o medo de cair, nunca vamos aprender a andar. Temos que confiar no Pai, em vez de estar à espera que Ele nos segure sempre, se queremos aprender a caminhar.
Senhor Jesus, meu Senhor e meu Deus, eu creio, mas aumenta a minha fé!
Domingo II da Páscoa, ano C

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Páscoa

Origem da festa da Páscoa
A Páscoa começou por ser uma festa de pastores nómadas anterior a Moisés e comum a outros povos para além do povo hebreu. Era a festa da Primavera, quando a vida recomeçava, quando os pastores partiam com o gado em busca de novas pastagens. Na primeira lua cheia da Primavera sacrificava-se um cordeiro (Êxodo 3,18) cuja carne era assada ao fogo e comida com pão sem fermento e ervas amargas. Comia-se em situação de quem estava em viagem. O sangue do cordeiro (sangue, símbolo da vida) era aspergido sobre as entradas das casas ou tendas como prece para que fosse protegida a vida das pessoas e dos animais

A Páscoa e o Êxodo
É este rito pastoril que os israelitas vão transformar na sua mais importante festa: a festa comemorativa da sua saída da escravidão do Egipto. Páscoa significa passagem: passagem da não-vida para a vida, a primavera do povo de Deus, a maneira extraordinária como Deus os reuniu, os libertou, os fez nascer como povo. Mas esta celebração nunca foi um simples recordar, não era pensar nos antepassados que foram, há séculos, libertos da escravidão. Não! Em cada geração, cada membro deste povo, ao celebrar todos os anos a Páscoa, há-de considerar-se a si mesmo como salvo do Egipto. Celebrar o Êxodo é torná-lo vivo, presente, é sentir que hoje Deus nos liberta de tantos "egiptos". É também uma festa de futuro, de esperança escatológica: celebrar a Páscoa é atirar-se na esperança para um futuro de vida que esperamos do SENHOR.

A Páscoa de Jesus
A Páscoa de Jesus é a sua passagem deste mundo para o Pai. Na última ceia, Ele antecipa sacramentalmente a Sua entrega livre e consciente. Toda a Sua vida foi um fazer-Se pão partido para dar vida à humanidade (João 6); agora, em plena ceia da Páscoa judaica, Ele apresenta-Se como o verdadeiro Cordeiro pascal, que Se vai oferecer em sacrifício pela vida de todos. E a Páscoa judaica, recordação e esperança da grande libertação, é transformada, ultrapassada em absoluto: agora a Páscoa torna-se a libertação completa do pecado e da morte, torna-se o dom completamente gratuito da vida. É a Páscoa de Jesus!

A nossa Páscoa
Pela celebração da eucaristia, esta Páscoa de Jesus, embora seja irrepetível, torna-se presente aqui e agora, para nós! É viver hoje a salvação de Jesus, de uma maneira ainda mais perfeita do que os judeus vivem hoje o Êxodo, apesar de terem passado séculos. E é esperança escatológica para o futuro. Celebrar a Eucaristia é tomar parte na doação pessoal de Jesus. É memória que torna presente Deus que actuou no passado em nosso favor, que actua no presente e há-de continuar a actuar no futuro. Cristo é a nossa Páscoa: viver a Páscoa é viver o próprio Cristo imolado e ressuscitado.

Publicado no Astrolábio, boletim das paróquias de Ervedal da Beira, Lagares da Beira, Lageosa, Lagos da Beira, Meruge, Seixo da Beira e Travanca de Lagos.
Bibliografia consultada: António Maria Bessa Taipa, O Mistério da Páscoa, in A Celebração do Mistério Pascal - Tríduo Pascal (VIII Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica), Boletim de Pastoral Litúrgica, Fátima Janeiro/Setembro de 1983, páginas 7 a 18.