quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Direito a ser Padre?

Publicado em jornais, há uns tempos atrás, como resposta a um artigo em que um Padre defendia a ordenação das mulheres.

Embora pouco cobiçada, a vida de Padre é vista por muitas pessoas como um direito, como uma coisa para quem quer. Deste erro parte a avaliação igualmente errada que muitas pessoas fazem das restrições da Igreja no que toca ao acesso às ordens sacras. É desta perspectiva desacertada, que vê a Igreja como uma empresa ou associação e o sacramento da Ordem como um cargo de poder e não de serviço, que derivam questões como: “Ele queria ser Padre mas não o deixaram”; “Os Padres deviam casar porque muitos gostavam de ser Padres e não vão por não se poderem casar”; e ainda “As mulheres têm direito a ser ordenadas e a ter poder de decisão na Igreja”.
Ora, a questão é que ninguém tem direito a ser Padre! Eu não tenho direito a ser Padre: a Igreja é que tem direito a que eu seja Padre, a que haja alguém que, enviado por Deus, lhe administre os sacramentos e alimente com a Palavra de Deus. Porque ser Padre é uma questão de os cristãos terem acesso aos sacramentos, e não de poder. Eu não sou Padre por causa de mim, nem para minha consolação pessoal: embora feliz por ser Padre, sou-o por causa de uma necessidade que a Igreja tem, e não fazia sentido ser de outra maneira.
Porque ser Padre não é uma questão de “ter direito”, a Igreja deve “filtrar” os candidatos e não deixar ordenar aqueles que descobrir que não são idóneos.
Do mesmo modo, o celibato tem a vantagem de percebermos que ser Padre não é “uma profissão como as outras”, como diz o povo.
Colocar a questão da ordenação de mulheres numa perspectiva de “ter poder” na Igreja é, no mínimo, colocar mal a questão. Não precisamos de quem queira vir mandar na Igreja. Precisamos é de quem queira vir servir a Igreja, de quem esteja disposto a deitar-se tarde e levantar-se cedo para celebrar a Missa em tantas paróquias sem Eucaristia, para acompanhar a vida espiritual e pastoral nas nossas cada vez maiores unidades pastorais, para ter a catequese em ordem, para fazer as reuniões, para resolver os problemas chatos dos centros sociais, para fazer a actividade com os jovens, para resolver os conflitos pouco agradáveis com a Fábrica da Igreja, para visitar os doentes, para confessar uma igreja cheia... Tudo isso custa muito, e tem a ver apenas com amor à Igreja, e não com direito a ser coisa nenhuma. Quem se acha com tantos direitos perante o sacramento da Ordem será que quer ser ordenado/a por amor a Deus e à Igreja ou apenas por amor a si próprio? Deus nos livre de a Igreja ser invadida, na sua hierarquia, por pessoas sedentas de poder e de ascensão pessoal em vez de espírito de serviço! Se já as há por lá, não queiramos lá mais!

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