quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O novo acordo ortográfico e o reaccionário que há em cada um de nós

Não gosto do novo acordo ortográfico. Temos pena, mas não gosto, e, já que a nossa sociedade se gaba se ser tão pluralista, então tem que me aceitar assim…
Porém, sempre que falo no assunto, quase sempre os meus interlocutores me devolvem: “eu também não!”. Surpreendido (ou talvez não), vou encontrando cada vez mais pessoas em desacordo com o acordo. Vidas reais de pessoas que vivem o drama de serem obrigadas (por trabalharem em instituições públicas, por exemplo) a escrever de uma forma que lhes causa aversão, ou então outros que se podem dar ao luxo de, pura e simplesmente, dizer que continuam a escrever como sempre escreveram, venha quem vier e doa a quem doer!
Será que os meus interlocutores são todos reaccionários? Ou será que há um sentimento mais amplo de ruptura com as modernices e o “português antigo” promete continuar actual?
Talvez haja um um reaccionário em cada um de nós...
Novo acordo ortográfico? Solta o reaccionário que há em ti!

3 comentários:

Tink disse...

Também sou "reaccionária"! Sinto-me bem assim. Não é uma questão de gosto, é a constactação de que o AO90 tem influência na forma como pronunciamos as palavras. Sou a favor da diversidade linguística e as variantes do Português só tornam a nossa língua mais rica. Não é preciso traduzir do Português de Portugal para o Português do Brasil e vice-versa. O que é preciso é que a generalidade das populações dos dois países se tornem suficientemente cultas para reconhecerem as duas variantes e, assim, possam desfrutar dos textos, sobretudo dos literários, posicionando-se numa ou noutra norma.

Anónimo disse...

Só se for reaccionário opormo-nos a medidas totalitárias e de destruição do património cultural português.

Acha que o Prof. Eduardo Lourenço ou o Prof. Barata Moura são reaccionários? Eles opõem-se ao "acordo".

P. Orlando Henriques disse...

Caríssima Blueocean,
Bem haja pelo comentário tão oportuno. É verdade que o novo acordo altera a forma de pronunciar palavras. E até digo mais: há gravíssimos danos colaterais, nomeadamente o facto de algumas pessoas começarem a tirar letras onde nem o acordo prevê que sejam tiradas (por exemplo, já recebi correspondência oficial a dizer "contato" em vez de "contacto"!).
Além disso, o seu comentário abriu, aqui, uma outra perspectiva de que ainda não me tinha lembrado mas que é totalmente verdadeira! De facto, há que conservar a diferença até mesmo por uma questão de fruição literária!

Caríssimo Anónimo das 18h22 (de 1-11-2013)
Tendo em conta que o reaccionário é aquele que REAGE, digo que somos reaccionários na medida em que REAGIMOS a estas medidas que, como diz e bem, são "totalitárias e de destruição do património cultural português". Uma vez que a palavra "reaccionáro" tem um contexto político e ideológico, talvez eu a devesse ter posto entre aspas, uma vez que não tem, aqui, toda a abrangência que costuma ter habitualmente nesse contaxto. No entanto, creio que fica claro que somos reaccionários apenas na medida em que temos todo o orgulho em reagir contra este acordo ortográfico.