segunda-feira, 6 de julho de 2015

«Um anjo de satanás que me esbofeteia»

S. Paulo não diz qual era a tentação que constantemente o atormentava, mas deixa claro que era muito difícil lutar contra ela: «foi-me deixado um espinho na carne, um anjo de satanás que me esbofeteia», ouvimos na 2ª leitura. A tentação não é pecado; o que é pecado é cair na tentação. Nem sequer sabemos se S. Paulo caiu nessa tentação que o atormentava como «um espinho na carne», mas o certo é que ela era para o Apóstolo um tormento difícil, por um lado, e constante, por outro; ou talvez fosse difícil exactamente por ser constante. Uma luta fatigante, sem tréguas, a ponto de S. Paulo «por três vezes» ter rogado ao Senhor que afastasse de si esse anjo de satanás.
Todos desejaríamos uma vida tranquila, sem ter que enfrentar a luta tão dura contra as tentações. Mas isso seria uma espiritualidade falsa. Toda a vida dos grandes santos foi uma luta diária contra as mais duras tentações. São Paulo teve visões, mas «para que a grandeza das revelações não me ensoberbeça, foi-me deixado um espinho na carne, […] para que não me orgulhe». Assim, se Deus permite que sejamos tentados (fortemente, embora nunca acima das nossas forças) é para não nos orgulharmos, achando que somos os melhores ou que já somos perfeitos e nada mais temos a crescer.
Também para aprendermos a confiar em Deus e a saber que sem Ele nada podemos fazer: «basta-te a minha graça», respondeu o Senhor a S. Paulo. Parece impossível vencer o pecado, mas com a graça (e só como ela) é possível.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sermão do Encontro 2015

  O texto a itálico é tirado ou adaptado das visões da bem-aventurada Anna Catarina Emmerich
 
 * * *

Quando Lhe puseram a cruz aos pés, Jesus ajoelhou-Se e abraçou o instrumento de suplício beijando-o por três vezes. Em voz baixa, dirigiu ao Pai um amoroso agradecimento por ter chegado a hora da redenção da humanidade.
Soou o clarim da cavalaria de Pilatos para dar início ao cortejo. Um dos fariseus aproximou-se de Jesus, ainda ajoelhado no chão com o madeiro ao ombro e disse-Lhe:
Já chega de rezas! O caminho é para a frente!
 E obrigaram-no a levantar-Se com violência, sentindo nos ombros, já flagelados, todo o peso da cruz, essa cruz que nós, os que dizemos querer segui-l’O, devemos também levar, conforme Ele nos disse. Tal como Isaac levando a lenha para ele mesmo ser sacrificado, assim o Salvador seguiu o caminho com a cruz às costas.
  
(entra o andor da imagem do
Senhor dos Passos)
  
Segue com a cruz às costas, mas já hoje passou por muito… Alguns homens, vindos de fora, ao passarem, vendo tal espectáculo ficam horrorizados. O Corpo Santíssimo de Jesus, chicoteado com flagelos que arrancavam carne, tornou-Se numa só chaga viva. Jesus, que quase não Se consegue arrastar, sem comer e sem dormir, com as vestes coladas às chagas da flagelação, tendo perdido muito sangue, reza pelos que O maltratam. No caminho do Calvário, Jesus não encontrou senão escárnios e crueldade; mas Ele reza. Cada vez que cai, os carrascos enchem-nos de insultos e agridem-nos com pancadas. Os fariseus gritam:
– Levantem-n’O, senão morre-nos antes de poder ser crucificado!
A rua por onde passa é estreita e suja, e nela tem muito que sofrer. As pessoas que estão em casa injuriam-n’O das janelas. Os escravos atiram-Lhe com lama e imundícies. E até as crianças, que Jesus tanto ama, juntando pedras, atiram-Lhe com elas, ou põem-Lhas diante dos pés.
O Seu belo rosto, agora desfigurado pelos golpes, mete repugnância de tão maltratado que está, “perdeu toda a aparência de um ser humano” (Is 52, 14). Causa-nos repulsa, vemos “nEle um homem castigado, ferido por Deus e humilhado”. Mas o Sangue “que Lhe afoga a fronte” é “chuva de perdão” (Cf. Moreira das Neves). “Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades” (Is 53, 4-5), aquelas que nós não choramos mas devíamos. Foi preciso que Ele nos aparecesse desfigurado pelos nossos pecados para, finalmente, percebemos como eles são feios. E nós, tantas vezes, em vez de chorarmos as nossas culpas, choramos aquilo que já não nos pertence. Estupidamente, choramos por servir a Cristo; choramos estultamente, como se os pecadores é que fossem uns privilegiados.
Quando o toque do clarim deu o sinal de partida para o Calvário, a Santíssima Mãe não pôde resistir ao desejo de tornar a ver o seu Divino Filho e pediu a São João que a acompanhasse a um dos lugares onde Jesus haveria de passar.
 
(entra o andor da imagem de
Nossa Senhora)
 
Ao abrigo daquela porta, na rua onde Jesus havia de passar, Maria está lá, embrulhada no seu manto azul acinzentado, pálida, com os olhos vermelhos das lágrimas. Diz ela a São João:
 Convém que eu assista a este espectáculo, ou devo retirar-me? Terei forças para suportar a vista do meu Jesus?
Homens insolentes e triunfantes, vêm à frente, trazendo os instrumentos do suplício:
Quem é aquela mulher que se lamenta?” perguntam os soldados.
É a Mãe do Galileu.
E atormentavam a Mãe Santíssima com zombarias, apontando-a com o dedo. Um deles pega nos cravos que hão-de de pregar Jesus no madeiro, mostrando-os com ar de escárnio à Mãe dolorosa.
Finalmente, aparece Jesus, vacilante e curvado ao peso de tão dolorosa carga. Ao voltar para Sua Mãe os olhos cheios de compaixão, tropeçando, cai sobre os joelhos e mãos. Maria, na violência de tão grande dor, nem olha para soldados nem algozes: não vê senão o Seu Filho muito amado e, saindo do portal onde estava, lança-se para o meio dos archeiros que maltratam Jesus. Caindo de joelhos aos pés d’Ele, aperta-O ao coração.
 Meu Filho!
 Minha Mãe!
No meio da confusão, São João e as santas mulheres querem levantar Maria. Os carrascos injuriavam-na. Diz-lhe um deles:
 O que é que vieste para aqui fazer, mulher? Se O tivesses educado como devia ser, não estaria agora aqui nas nossas mãos.
 Alguns soldados comoveram-se; outros repeliram a Virgem Santa, mas nenhum lhe tocou.
No Calvário, Maria, as outras mulheres e São João estavam junto à cruz, de olhos fixos no Senhor. Maria, movida pelo amor de Mãe, pedia interiormente a Jesus que a deixasse morrer também com Ele. Mas, com ternura, o Senhor olhou para a Sua Mãe e, volvendo os olhos para São João, disse:
 Mulher, eis o teu filho.
Depois disse a São João, Seu discípulo predilecto:
 Eis aí a tua Mãe.
A Virgem Santíssima ficou abalada mas comovida com tão solenes disposições do Filho moribundo
Na cruz ganhámos uma Mãe. Todos nós, discípulos de Cristo, ali estamos representados em São João, o discípulo predilecto de Jesus. Pela cruz, tornámo-nos filhos do Pai do Céu e, por isso, irmãos de Cristo. Porque somos irmãos de Cristo, a Sua Mãe e também nossa Mãe.
“Lembrai-vos que não foi por coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fostes resgatados dessa vã maneira de viver […], mas pelo Sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem defeito e sem mancha.” (cf. 1 Pedro 1, 18-21). Vã maneira de viver é viver como se Deus não existisse. Dessa maneira vã de viver é que podemos ser hoje resgatados. E não é por prata nem ouro que somos resgatados, mas por um preço muito mais precioso, inestimável: o Sangue de Cristo! Nunca mais desperdiçar gota nenhuma desse Sangue preciosíssimo! Nunca mais viver como se Deus não existisse! Nunca mais viver a não ser como cristão! Se escolhemos Cristo, chega de invejar o que ficou para trás. Não vale a pena chorar: escolhemos a melhor parte!
Jesus morreu: segui-l’O é renúncia. Jesus ressuscitou: segui-l’O é viver uma vida nova.
    
Pampilhosa da Serra, 29-03 2015
Padre Orlando Henriques

domingo, 11 de janeiro de 2015

Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos

Todos os anos, de 18 a 25 de Janeiro, celebramos oito dias de oração pela unidade dos cristãos. O que é isso? E para quê?

No princípio, a Igreja estava unida… Em 1050, depois de uma série de discussões e num contexto histórico polémico, deu-se a grande separação entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas, que subsiste até hoje. No séc. XVI, o monge alemão Martinho Lutero deu início à reforma protestante. Depois, sobretudo entre os protestantes, continuaram as sub-divisões…

Estas duas grandes rupturas mantêm os cristãos escandalosamente divididos. Uma cristandade assim dividida entristece profundamente o nosso Mestre e prejudica a eficácia do nosso testemunho e da evangelização.

Será que a unidade é possível? Sim, há sinais de esperança: por um lado, ao longo dos séculos, muitas Igrejas Ortodoxas voltaram à comunhão com o Santo Padre (são as chamadas Igrejas “uniatas”); por outro lado, muitos protestantes, individualmente, começam a perceber, na Bíblia e na história da Igreja, os sinais que apontam para a originalidade e autenticidade da Igreja Católica, muitos deles desiludidos com o cada vez maior relativismo das suas comunidades protestantes.

De 18 a 25 de Janeiro, de um modo especial, rezemos pelos nossos irmãos separados, os protestantes e ortodoxos, para que, redescobrindo a beleza e a verdade da única Igreja de Cristo, regressem à casa paterna e, assim, volte a haver um só rebanho e um só Pastor.