Igreja matriz de Arganil, 3 de Julho de 2010, Domingo XIV do Tempo Comum, ano C
Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.
Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.
Porquê pedir a Deus que envie operários para a sua seara? Deus não precisa de ser convencido a enviar operários para a sua messe. Mas fazemos esta oração por causa de nós próprios. Não tanto para convencermos a Deus mas para nos convencermos a nós. É impossível pedirmos a Deus que envie trabalhadores sem nos sentirmos comprometidos a sermos também, nós próprios, enviados. Quando eu rezo a Deus para enviar operários eu próprio acabo por dizer a mim mesmo que estou disponível para ir. E quando peço a Deus que envie alguém isso faz com que eu acabe por Lhe dizer também: «Aqui estou eu, envia-me!». Foi o que se passou comigo. Comecei a pedir a Deus que enviasse apóstolos, evangelizadores. E o pensamento mais lógico que se seguiu foi, precisamente «E porque não eu?». Este é o pensamento mais lógico que se segue porque estamos a pedir a Deus uma coisa tão nossa, uma coisa da qual sentimos que fazemos parte (porque é da Igreja que se trata), que acaba por não ter sentido nenhum pedi-la sem nos sentirmos implicados. Acaba por não ter sentido nenhum dizer «Envia os outros», ou então «Envia os filhos dos outros». Não. Se eu rezo ao Senhor para enviar trabalhadores para evangelizar e se rezo isso com o coração então não digo «Envia os outros», mas digo antes «Envia os outros e envia-me também a mim!».
Foi o que aconteceu comigo. Ao princípio nem queria ir. Mas o Senhor moldou-me o coração aos poucos. E fui pegar num livro dos evangelhos que o Sr. Reitor Manuel Contumélias nos tinha entregue no final do quarto ano de catequese, no Mont’Alto. Arrumei o livro na estante e nunca mais lhe liguei. Mas um dia deu-me a curiosidade de o descobrir. E houve duas passagens que me marcaram. Uma delas foi esta, «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe». A outra foi «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lucas 4, 18a), a frase escolhida para as estampas de ordenação e missa nova. Comecei a rezar e senti-me enviado. Porque quando rezamos pelas vocações sentimo-nos vocacionados e enviados. Enviados como leigos, como padres, como missionários… É através desta oração que o Espírito Santo faz nascer vocações. É daqui que nascem cristãos leigos empenhados e com consciência missionária. É daqui que nascem também os padres. Olhando só às aparências, e vendo as coisas só com o nosso pobre olhar humano, Arganil pode parecer que se está a tornar cada vez mais um terreno árido para a fé. Não é verdade! É precisamente aí, nos lugares onde aparentemente (aparentemente!) só há deserto, que o Espírito Santo nos surpreende. Mais ou menos como a Natanael que, ao saber que Jesus era de Nazaré, disse: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?». Mas o Apóstolo Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» (João 1, 46). Então o que nos falta é isto: deixarmos de olhar para as nossas terras com um olhar derrotista como se já não houvesse fé ou como se Deus nos tivesse abandonado.
Mas pedir ao Senhor da messe que envie trabalhadores também nos serve para outra coisa ainda: serve para nos dar humildade. Serve para tomarmos consciência de que é Ele que nos envia, não somos nós que nos enviamos, nem é mais ninguém que nos envia. E por isso é a Ele que anunciamos, não nos anunciamos a nós próprios. Jesus envia os setenta e dois aos pares, e não sozinhos, para que não se sintam donos da missão. E envia-os para prepararem chegada de Jesus Cristo: portanto isso é que interessa, e não as nossas habilidades pessoais, nem o nosso sucesso. Ser discípulo não é uma carreira, porque a Igreja não é uma empresa! Rezar ao Senhor da messe liberta-nos da presunção e transforma-nos em apóstolos verdadeiros.
Precisamos de continuar a pedir ao dono da messe que envie operários para a sua messe. Mas pedir com o coração! E pedir com o coração é dizer «eu estou aqui: envia-me também! Faz de mim um testemunho eficaz para todos os que me vêem todos os dias». Pedir com o coração é dizer «aqui está o meu filho: se o chamas para padre leva-o e faz dele um apóstolo fecundo!». Porque é que continuamos, teimosos, a recusar estas coisas? Afinal Jesus Cristo é importante para nós ou não? Será que amamos Jesus Cristo o suficiente para irmos e para deixarmos ir os nossos? Ou será que Jesus Cristo, para nós é só um conjunto de ideias e de valores? É que as ideias não se amam, estudam-se. E os valores qualquer pessoa os tem, até os não crentes. Ninguém dá a vida por valores nem por ideias abstractas. Mas se Jesus Cristo for para nós uma Pessoa viva, que nos ama e que nos chama, então entregamo-nos a Ele. No dia em que começarmos a viver Jesus Cristo assim, rezaremos ao Senhor da seara para que envie trabalhadores para a sua seara; e haverá padres; e as igrejas vão encher-se de cristãos sinceros que, ao sair de lá, vão levar a alegria que é Jesus Cristo a todas as pessoas que encontrarem.
1 comentário:
A ceara é grande e os trabalhadores são poucos. Fez parte da tua homilia da Missa Nova, mas é uma grande verdade. Os "trabalhadores" são de facto poucos, mas são-o com muita vontade, cada um na missão que Deus nos deu, nos escolheu para o servir. Tu na mais nobre e visível missão, como sacerdote, mas "todos" animados e emanados na mesma fé, todos embora poucos, com uma vontade férrea de seguir os caminhos da fé, dispostos a lutar, para que a "missão" não aborte por interesses que nada têm a ver com o cristianismo e que estaremos atentos para denunciar.
Parabéns pela tua Missa Nova, que ela se repita para todo o sempre.
Abração
Carlos Dias
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