quarta-feira, 27 de março de 2013

Sermão do Encontro

Para o Encontro entre a Mãe Santíssima e o seu Divino Filho na procissão do Senhor dos Passus, em Domingo de Ramos, na Pampilhosa da Serra (24-03-2013).
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Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito, para que todo o que nEle crê não morra mas tenha a vida eterna (João 3, 16).
Esta é a maior das notícias. Esta é a Boa Nova digna desse nome.
O amor de Deus é salvação.
E foi Ele que nos amou primeiro! É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados (1º João 4, 10). E, por isso, também o mesmo Filho de Deus nos diz: Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça (João 15, 16-17).

Desde sempre, o Verbo de Deus existe. Foi pelo Seu Verbo que Deus disse “Faça-se”, e tudo foi feito. Desde sempre que Ele é Deus com o Pai na unidade do Espírito. E as delícias do Verbo consistem em estar com os filhos dos homens (Pr 8, 31). Tanto que Se fez um deles. Ele veio e habitou entre nós.
Ele tinha que vir, porque nós precisávamos se ser reconciliados com Deus… e uns com os outros. Ele é a nossa paz (Ef 2, 14), por isso Ele tinha que vir. Ele tinha que vir, porque nós não nos podemos salvar a nós mesmos. Quem teria a arrogância de se julgar capaz de se salvar a si mesmo? Ele tinha que vir porque todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho (Is 53, 6).
Esperávamos ansiosamente que Ele viesse. E Ele veio! O Filho de Deus veio ao mundo…

(entra o andor com a imagem do Senhor dos Passus)

Ele veio… Veio mas ninguém o conheceu! Aliás, Ele estava irreconhecível! O Seu rosto estava desfigurado! (Cf. Is 52, 14) Esmagado pelo sofrimento, Cristo carrega a Cruz.
Ficamos, talvez, confusos… Esperávamos que Ele viesse, não esperávamos que fosse… assim…
Tal como ninguém O reconheceu na pobreza do presépio em que nasceu, também agora dificilmente o reconheceríamos na crueldade da Cruz que leva às costas, ferido e humilhado. Tão desfigurado estava o seu rosto que tinha perdido toda a aparência de um ser humano (Is 52, 14)
Esperávamos a vinda de Deus glorioso, mas… Deus ferido e humilhado?! Que escândalo!!! Que loucura!...

Mas aquilo que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. Porque o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens. Por isso, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como não judeus, Cristo é poder e sabedoria de Deus. (Cf. 1ª Cor 1).

Nunca ninguém tinha visto nada assim. Na verdade, diante dele, os reis ficarão calados, porque hão-de ver o que nunca lhes tinham contado e observar o que nunca tinham ouvido. (Is 52, 15)

Nós não O conhecemos. Nós víamos nele um homem castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados. (Is 53, 4-5)
Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós. Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca. Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca. (Is 53, 6-7)

Ó Cristo, Vós viestes, e nós não Vos conhecemos!
Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 10-12).

Sim, tornámos filhos no Filho, tornámos filhos por causa do Teu Sangue, ó Cristo! Sangue de Cristo, chuva de perdão! […] Sangue, seiva do Céu sempre a jorrar. Sangue que lava a terra lés a lés como jamais a lavaria o mar. […] seja em cada agonia a grande esperança e mate a sede a quem de sede morre (M. Faria).

(pausa)

Porque se Ele oferecer a sua vida como sacrifício de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias, e a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na sua sabedoria (Is 53, 10-11).
 
Mas, por agora enfrentais o duro combate da Vossa Paixão. Os discípulos dispersaram-se e fugiram. Abandonado por todos, agora estais sozinho…
Estará Cristo totalmente só? Sim, porque é Ele que tem que enfrentar o combate; mas na Via Sacra de Jesus também aparece Maria, sua Mãe (J. Ratzinger). E a Sua Mãe Santíssima veio ao Seu encontro…

(entra o andor com a imagem de Nossa Senhora)

Senhora, quando todos fugiram, Vós estais aqui, diante do Vosso Filho, lacrimosa mas firme, confiante. Estais aqui porque as mães são assim. Mas, acima de tudo, estais aqui porque sois a Mulher da Fé, e, por isso, sois Mulher de coragem!

Há trinta e tal anos atrás, ali bem perto, no templo, ouvistes a profecia da boca do velho Simeão: Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma (Lc 2, 34-35).

E agora tudo isto se torna realidade; mas Vós conservastes sempre, no vosso Imaculado Coração, o que o Anjo Vos disse quando tudo começou: «Não temas, Maria» (Lc 1, 30). Por isso, agora os discípulos fugiram, mas vós estais aí, com a coragem de mãe, com a fidelidade de mãe, com a bondade de mãe, e com a Vossa Fé, que resiste na escuridão (Cf. J. Ratzinger): «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1, 45).

Nós fugiríamos, porque a nossa Fé, muitas vezes, é morna, tíbia, insípida, e nem sempre a sabemos levar a sério, principalmente quando chega a hora da verdade!...

Vós, Senhora, talvez mesmo sem compreender totalmente o que está a acontecer, sabeis que é o plano de Deus a realizar-se de forma incompreensível e surpreendente. Vós tendes Fé apesar de tudo, porque sabeis que o pensamento de Deus está acima do nosso e que o Seu plano é misterioso e se realiza por caminhos que nós, às vezes, não compreendemos. E, por isso, acreditais e confiais mesmo contra toda a esperança. Podeis até nem saber como são os planos de Deus, mas confiais.

Por estranho que tudo isto pareça e por doloroso que isto seja, Vós sabeis que o plano salvador de Deus passa por aqui, mesmo que não o compreendamos por agora. Por estranho que isto pareça e por doloroso que isto seja, Vós sabeis que, no fundo, este sofrimento e morte hão-de trazer consigo a Vida. Sofreis com paciência o sofrimento do Vosso Filho porque sabeis que ele há-de dar fruto de Vida e não de morte, mesmo que agora ainda não consigamos ver como.

Senhora, Vós sofrestes mas não desesperastes, porque o vosso sofrimento estava unido ao do Vosso Filho; era o mesmo sofrimento, um sofrimento que é doloroso mas não é trágico, porque acaba em ressurreição. Senhora, ensinai-nos a unir também os nossos sofrimentos ao único sacrifício de Cristo. Porque assim o nosso sofrimento já não é desespero, porque termina em caminhos de Vida verdadeira. Senhora, ensinai-me unir os meus sofrimentos ao único sacrifício de Cristo, porque assim eu completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1, 24), e assim já não é um sofrimento estéril.
 
É a Paixão de Cristo que nos conforta!
Toda nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele fomos salvos e livres (Cf. Gl 6, 14). Ele tinha que vir, porque nós precisávamos se ser reconciliados com Deus e uns com os outros.

Juntamente com Nossa Senhora, rezemos juntos:

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro das Vossas Chagas, escondei-me.
Não permitais que de Vós me separe.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós,
para que Vos louve com os Vossos Santos,
por todos os séculos. Ámen.