sábado, 24 de março de 2012

Domingo IV da Quaresma ano B

«Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.» Se fosse para condenar o mundo, não era preciso Cristo dar-Se ao trabalho de vir ao mundo: poderia condená-lo descansadamente sentado no Seu trono eterno; por isso, se o Filho foi enviado ao mundo, não pode ter sido para outra coisa senão para salvar o mundo.
A 1ª leitura fala-nos do tempo que o povo de Deus esteve exilado na Babilónia, como consequência dos seus pecados. As palavras da leitura mostram como o povo pagou caro por ter multiplicado as suas infidelidades, por ter profanado o templo do Senhor e por ter desprezado os profetas que o Senhor lhes tinha enviado para os advertir dos seus maus caminhos. Foi o seu pecado, a sua negação de Deus que os conduziu ao desterro para a Babilónia. Mas este exílio não foi uma vingança de Deus, mas apenas a consequência do comportamento rebelde de um povo infiel à aliança: «multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo». Foram eles próprios que se condenaram, porque o primeiro prejudicado com o pecado é o próprio pecador. E não foi por falta de aviso. Não faltaram, e com muita antecedência, os avisos dos profetas a alertar para os riscos de tais atitudes! Mas eles não ligaram a nada disso: como diz a leitura, «escarneciam dos mensageiros de Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas». É o que acontece hoje! E por isso estamos na situação em que estamos. O povo umas vezes, ignora os profetas, outras vezes despreza-os e não os leva a sério, e às vezes até os maltrata. Porém, o resultado está à vista, pois quando a Palavra do Senhor é ignorada e a lei de Deus é ridicularizada, desprezada ou achincalhada, quando a aliança com Deus é traída, o resultado só pode ser o mal e a destruição! Diz a 1ª leitura: «Enquanto o país não descontou os seus sábados [os sábados que andou a profanar durante tanto tempo], esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até se completarem setenta anos.» Não será isso que hoje se está a passar no nosso mundo? O povo viveu e continua a viver sem consciência de fé e sem valores humanos, e por isso paga por aquilo em que tem andado a faltar, acumulado e tudo junto!
No Evangelho de hoje, Jesus diz a Nicodemos: «Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna». Quando o povo de Deus andava no deserto, o acampamento foi infestado uma praga de serpentes venenosas que mordiam as pessoas e as matavam. Então o Senhor ordenou a Moisés que fizesse uma serpente em bronze (as Testemunhas de Jeová censuram-nos por termos imagens nas igrejas, mas o Senhor ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze) e que a fixasse no cimo de um poste; e todo aquele que fosse mordido pelas serpentes venenosas, se olhasse para a serpente de bronze, ficava curado! Esta serpente de bronze erguida no deserto é prefiguração de Cristo que, erguido na cruz, salva todo aquele que olha para Ele com fé. É dEle, só dEle, que vem a salvação. Não tenhamos a vaidade de achar que somos nós que nos salvamos, como se as nossas boas obras fossem um negócio pelo qual pudéssemos comprar a salvação; como se Deus nos ficasse a dever alguma coisa… Deus não deve nada a ninguém, quando nos salva é completamente grátis! E é isso que nos ensina a 2ª leitura de hoje. Muitos dizem: “O que interessa é fazer o bem, ir à Igreja não interessa para nada”: ora, isto não nos salva, porque a salvação é dom de Deus, não é mérito das nossas obras. Se a salvação fosse mérito das obras que fazemos, aí poderíamos gloriar-nos: “Eu fiz! Eu aconteci!...” (e pessoas com esta vaidade não faltam). Porém, S. Paulo deixa hoje bem claro na 2ª leitura que “ninguém se pode gloriar”, porque a salvação é dom de Deus, não vem de nós. Os que dizem “O que interessa é fazer o bem, ir à Igreja não interessa para nada” é porque: ou não acreditam em salvação nenhuma; ou porque têm a ilusão de que se podem salvar a si mesmos (pobres de nós!)… (Além disso, será que fazem assim tanto bem como dizem que é preciso fazer?)
«Deus amou de tal modo o mundo que entregou o Seu Filho unigénito, para que todo o homem que acredita nele não pereça, mas tenha a vida eterna.» A esta oferta de amor, o homem é chamado a dar uma resposta: ou acredita ou não acredita (não há meio termo!). E diz o Senhor que «quem acredita não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigénito de Deus» e a causa da condenação é que a luz veio ao mundo mas os homens amaram mais as trevas, porque eram más as suas obras. Este acreditar não é apenas a um simples exercício intelectual. Acreditar não é só a aceitação de uma verdade mas a adesão a uma Pessoa. Acreditar é dar crédito a alguém. Somos chamados e convidados a acreditar não em coisas mas numa pessoa: Cristo. A salvação é um dom que Deus nos oferece. Cabe-nos aceita-la e vive-la ou rejeita-la. E esta escolha é uma escolha que se faz todos os dias. Todos os dias, nos nossos dilemas, somos chamados a dizer que acreditamos em Cristo.
Jesus Cristo, elevado no alto do mastro da cruz para atrair a Ti o nosso olhar, recebe o tributo da nossa gratidão e faz-nos saborear a salvação que nos prometes. Assim seja.